Cavalo de Tróia Celular: Macrófagos e Nanopartículas em Ação Coordenada para Combater o Câncer

O câncer é uma doença caracterizada pelo crescimento anormal e desordenado de células que pode acometer diversos tecidos e órgãos do corpo, incluindo pele, estômago, mama, bexiga e próstata. Além disso, é uma das principais causas de mortes em todo o mundo. Como alternativa de alterar este cenário, sistemas de entrega passivos baseados em nanopartículas (NPs) carregados com agentes quimioterápicos têm sido explorados para melhorar a eficácia de terapias do câncer, uma vez que são capazes de acumular os medicamentos e aliviar os seus efeitos colaterais. Entretanto, impasses como a rápida depuração, a falta de direcionamento específico ao tumor e a própria difusão inespecífica do tecido tumoral têm reduzido o potencial terapêutico da técnica. Estudos têm sido realizados como forma de transpor os problemas citados anteriormente. Por exemplo, grupos de pesquisa vêm utilizando sistemas de entrega baseados no direcionamento ativo e específico de NPs em receptores na superfície da célula tumoral. No entanto, novas limitações como heterogeneidade tumoral, hipóxia e microambientes tumorais anormais reduzem a penetração do fármaco e consequentemente a sua eficiência. Para superar estes impasses, pesquisadores da Universidade Politécnica de Anhui, na China, desenvolveram um sistema de entrega ativo de medicamentos utilizando nanopartículas acopladas à superfície de macrófagos com o intuito de melhorar a eficiência do transporte e penetração em áreas profundas do tumor, assim como aumentar o tempo de circulação, biocompatibilidade e capacidade de ultrapassar barreiras biológicas. 

Os macrófagos são células fagocíticas diferenciadas a partir de monócitos e que compõem o sistema imunológico. O uso de sistemas endógenos baseados nessas células promove uma melhor administração de medicamentos por serem reconhecidos como “próprios” pelo corpo, agindo como um “cavalo de tróia celular”. Além disso, possuem alta especificidade e capacidade de penetrar em tumores devido ao seu comportamento quimiotático e de transportar compostos externos, auxiliando no escape da depuração sanguínea. A partir disso, a técnica utilizada pelo grupo baseou-se no uso de um copolímero modificado com peptídeos que permitem a fixação das NPs carregadas com doxorrubicina (DOX),  um dos medicamentos mais utilizados no tratamento de tumores sólidos, à superfície dos macrófagos, como pode ser observado na esquema da Figura 1. Estes macrófagos modificados podem penetrar profundamente em tumores, entregando o agente quimioterápico de forma responsiva ao pH ácido gerado pelo tumor, aumentando o acúmulo do medicamento e o tratamento, além de reduzir a toxicidade sistêmica. No caso do respectivo estudo, células de câncer de pulmão foram utilizadas como modelo.

Os resultados dos estudos in vitro mostraram uma proporção de homing (medida de eficiência com que células são direcionadas e acumuladas em um tecido alvo) de 220% em comparação com o grupo controle, além de uma grande capacidade de direcionamento do sistema NPs-DOX-macrófago (SNDM) a tumores pulmonares in vivo e de efeitos antitumorais significativos em grupos tratados com o SNDM, indicados pela proporção de apoptose de células tumorais. Esse avanço na técnica terapêutica anticâncer representa uma nova abordagem na entrega de quimioterápicos, superando desafios das terapias anteriores baseadas em NPs. Considerando o câncer de pulmão como um dos focos principais de estudo devido à sua alta prevalência e mortalidade e, em virtude dos resultados positivos do trabalho citado, a estratégia de entrega dirigida pode oferecer uma alternativa promissora para o seu tratamento.


Figura 1: Esquema de nanopartículas de ligação de macrófagos para entrega direcionada de DOX (SNDM) para tratamento antitumoral. Adaptado de Chengrui et al. (2024). 

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