Nanopartículas de azadiractina no manejo sustentável de pragas

As pragas agrícolas são uma das principais causas de prejuízos nas safras, atingindo aproximadamente entre 25 e 30% das perdas totais. Embora os pesticidas sejam utilizados para controlar o problema, aproximadamente 90% do que é aplicado é perdido por escoamento ou lavagem, o que pode contaminar lençóis freáticos e prejudicar a vida aquática. 

Entre as pragas, os insetos são uma grande preocupação, visto que eles podem comer o material da folha e diminuir a produção fotossíntética da planta. As plantas, contudo, não são completamente indefesas: elas produzem os chamados metabólitos secundários (MS), moléculas capazes de interagir com seus predadores, causando inibição da atividade alimentar, intoxicação e até mesmo a morte.

Dentre os MS com potencial inseticida, destaca-se a azadiractina (AZA), um terpeno isolado de Azadiractha indica e princípio ativo do óleo de neem. Esse composto é efetivo contra mais de 600 espécies de insetos, causando distúrbios do crescimento e da alimentação. Contudo, por não ser solúvel em água, sua utilização na agricultura é limitada. Outro MS, o ácido tânico (AT), é um tanino altamente adstringente, também produzido pelas plantas como dissuasor de herbivoria, já que sua capacidade de “amarrar a boca” inibe os insetos de comer a planta. A figura 1 ilustra a estrutura química da azadiractina e do ácido tânico

Figura 1: Azadiractina e Ácido tânico
Fonte: PubChem

Pensando no potencial da azadiractina e nos obstáculos de sua aplicação em campo, pesquisadores desenvolveram nanopartículas carregadas de AZA com os blocos construtores que são outros metabólitos secundários com potencial inseticida, como o ácido tânico. Isso permitiria com que a azadiractina, dentro dessa nanopartícula, pudesse ser carregada em meio aquoso, viabilizando sua entrega que antes era limitada.

Os resultados da nanopartícula de ácido tânico carregada com azadiractina (AT NP)  foram extremamente promissores. Em solução, ela apresentou baixa tensão superficial, o que pode ser benéfico à ação inseticida, além de melhor adesão à superfície da folha e maior resistência à erosão, o que impede que ele seja carregado com a chuva. Em testes in vivo na flor de pepino, a AT NP foi capaz de eliminar até 86,67% das larvas de Aphis gossypii, o piolho do algodão. Essa NP é produzida com grande rendimento (82,46%) e não apresenta potencial de inibição dos crescimento das plantas, mostrando como o ácido tânico pode ser um interessante “bloco construtor” para nanopartículas, especialmente em associação com azadiractina.

Este estudo mostra como a nanotecnologia pode ser uma importante aliada no objetivo de um mundo mais verde, na diminuição do uso de agrotóxicos nocivos à vida humana e aquática, de forma eficiente, barata e inteligente. 

Referências

ZHANG, Xiaohong; XIAO, Jianhua; HUANG, Yuqi; LIU, Yulu; HU, Gaohua; YAN, Weiyao; YAN, Guangyao; GUO, Qing; SHI, Jiawei; HAN, Ruyue. Sustainable pest management using plant secondary metabolites regulated azadirachtin nano-assemblies. Nature Communications, [S.L.], v. 16, n. 1, 18 fev. 2025. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1038/s41467-025-57028-w.

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