Nanopartícula quimioterápica: uma alternativa para o tratamento de câncer
Atualmente, a principal alternativa para o tratamento do câncer é a quimioterapia, uma estratégia terapêutica baseada na eliminação de células cancerígenas por meiode medicamentos. Existe, contudo, uma grande preocupação relacionada a ela: como eliminar as células cancerígenas preservando as células saudáveis do corpo?
A Ciência, portanto, tem se preocupado em desenvolver métodos de “drug-delivery”, isto é, a entrega de medicamentos de forma seletiva, levando ao aumento da concentração da substância e a tornando ativa somente na região alvo.
Uma alternativa promissora para superar esses obstáculos são as nanopartículas (NPs). Um grupo liderado por Mauro Ferrari, do Instituto Metodista de Pesquisa de Houston, associou a doxorrubicina, um quimioterápico, a fibras poliméricas, que foram então alocadas dentro de uma nanopartícula de sílica. Esse medicamento, que tem um efeito anti-câncer, bloqueia o DNA das células e impede que elas se repliquem, causando a morte do tumor, mas também das células do miocárdio, levando o paciente a insuficiência cardíaca.
A nanopartícula, contudo, contorna esses efeitos. Seu formato e tamanho permitem com que ela viaje livremente pelos vasos sanguíneos normais. Contudo, a rede vascular próxima ao tumor é mais irregular e porosa, permitindo com que a NP extravase e atinja o tecido. Devido ao pH da região, os filamentos carregados de doxorrubicina se dissociam das nanopartículas e se enovelam, se tornando do mesmo tamanho de vesículas que fazem a comunicação entre as células e permitindo uma melhor distribuição do fármaco.
Além disso, os filamentos movem-se em direção ao núcleo, que era o local específico onde os pesquisadores queriam que eles se concentrassem. Na Figura 1, isso é representado pelos pontos vermelhos, que indicam os polímeros filamentosos carregados com doxorrubicina, visivelmente posicionados no centro da célula. Isso é uma vantagem já que, dessa forma, elas estão mais distantes da bomba de efluxo de doxorrubicina e mais perto do DNA da célula.
Figura 1: Imagem de microscopia confocal de célula tratada com as nanopartículas de sílica carregadas com filamentos com doxorrubicina
Fonte: Xu et al., 2016.
Os resultados foram extremamente promissores. Até 50% dos camundongos doentes que foram tratados não mostraram sinais de câncer metastáticos nos próximos 8 meses que, segundo Ferrari, em humanos, equivaleria a 24 anos livre do câncer.
O novo tratamento não é a primeira abordagem baseada em nanomedicina a apresentar resultados promissores. Um estudo recente do grupo de pesquisa em nanotecnologia, publicado na revista The Lancet, revela que mais de 50 compostos relacionados com nanomedicina estão atualmente em fase de ensaios clínicos, o que mostra como a nanotecnologia é promissora para a área da saúde.
Referências
XU, Rong; ZHANG, Guodong; MAI, Junhua; DENG, Xiaoyong; SEGURA-IBARRA, Victor; WU, Suhong; SHEN, Jianliang; LIU, Haoran; HU, Zhenhua; CHEN, Lingxiao. An injectable nanoparticle generator enhances delivery of cancer therapeutics. Nature Biotechnology, [S.L.], v. 34, n. 4, p. 414-418, 14 mar. 2016. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1038/nbt.3506.