Nanofibras fabricadas a partir de roupas descartadas visando a sorção de óleo
A cultura do consumismo engloba a tendência fast fashion de venda, distribuição e consumo excessivo de produtos têxteis de curto ciclo de vida útil. Este padrão de consumo, associado ao longo período de decomposição de peças têxteis na natureza, tem provocado impactos ambientais significativos de larga escala, como a geração e o descarte inadequado de grandes volumes de tecidos. Estima-se, a partir disso, que o desperdício têxtil global ultrapasse o marco alarmante de 148 milhões de toneladas por ano até 2030. Além disso, têm-se o descarte inadequado de fluidos industriais, rejeitos de natureza oleosa contendo substâncias tóxicas e metais pesados, em solos e corpos hídricos, que comprometem o ecossistema, a saúde e a economia local. Como exemplo do potencial poluente desses efluentes, tem-se o recente caso de desastre ambiental por derramamento de óleo que atingiu nove estados do litoral do Nordeste e se estendeu a outros dois do Sudeste brasileiro. Como forma de remediar tais contaminações ambientais, pesquisadores da Universidade de Cornell, em Nova York, propuseram a fabricação de membranas nanofibrosas eletrofiadas (MNE) a partir de tecidos de poliéster descartados visando a sorção de óleo.
Fibras de poli(tereftalato de etileno) (PET) ou fibras de poliéster são um dos constituintes de produtos têxteis e um dos principais responsáveis pelo desperdício excessivo de tecidos que domina o mercado têxtil. Em vista disso, abordagens de reciclagem foram aprofundadas pelo grupo de pesquisa, de modo a utilizar itens PET reciclados como fonte de polímeros para a produção de MNE por meio do processo de eletrofiação. O spandex, polímero que confere flexibilidade às fibras e que é geralmente incorporado em roupas de caráter esportivo, segmento têxtil em constante ascensão, apresenta propriedades hidrofóbicas sobre o poliéster, sendo interessante a sua avaliação comparativa às outras fontes na sorção de óleo. Desse modo, os MNEs foram produzidos a partir de três diferentes fontes de polímeros comumente descartados e com potencial poluente, sendo eles: uma camiseta de spandex/poliéster (camiseta SP), uma camiseta de poliéster (camiseta PET) e uma garrafa PET (Figura 1). Para avaliar tal capacidade de sorção de óleo das diferentes fontes, foram utilizados óleo vegetal, óleo de bomba, óleo de silicone e hexano.
Os resultados indicaram maior capacidade de sorção de óleo da camiseta SP MNE para todas as categorias de óleos utilizadas nos estudos, devido, principalmente, à presença de traços de spandex nas nanofibras, fornecendo um caráter mais hidrofóbico ao MNE quando comparado ao PET, aumentando, assim, as atividades de sorção de óleo. Entretanto, a utilização de tais materiais poderia gerar, após uso, poluição secundária, tendo em vista o potencial de toxicidade de resíduos de nanofibras e nanoplásticos no sistema digestivo, reprodutivo e nervoso. Pensando nisso, os pesquisadores propuseram, também, estratégias eficazes de reciclagem para MNE para minimizar a poluição secundária associada ao seu descarte. A camiseta SP MNE exibiu reutilização satisfatória como fonte de polímero, após ser dissolvida, para outro MNE e como sorvente de óleo enquanto MNE reciclado. Assim, o estudo explora estratégias potenciais para reaproveitar tecidos de poliéster e spandex em nanomateriais com propriedades de interesse, como a de sorção de óleo para descontaminação de solos e corpos hídricos.
Figura 1: Produção de MNEs eletrofiados usando tecidos de poliéster/spandex e poliéster descartados e garrafas PET para aplicações de sorção de óleo. Modificado de Tamer et al. (2024).
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