Nano-superbonder: uma alternativa biologicamente compatível

O Superbonder© é, provavelmente, a supercola mais conhecida no Brasil. Presente na maioria das nossas casas e no nosso dia a dia, ele tem como componente principal o etilcianoacrilato. As supercolas a base desse composto foram muito utilizadas ao longo das Guerras Mundiais para o fechamento de feridas que, contudo, se mostraram pouco biocompatíveis e passíveis de gerar diversos problemas, como irritações locais. Assim, para a referida aplicação (fechamento de feridas), foram utilizadas agulha e linha para realização de suturas. Todavia, esse procedimento é relativamente invasivo, especialmente para tecidos moles como o fígado e outros órgãos. Alguns adesivos biocompatíveis para esses fins já foram desenvolvidos, mas costumam exigir reações complexas de polimerização que podem não funcionar bem em locais úmidos, que é o caso da maior parte das cirurgias. 

Visando melhorar esse cenário, Meddahi e colaboradores desenvolveram uma nanopartícula a base de Fe2O3, o óxido férrico, e a aderiram à uma superfície gelatinosa de sílica (SiO2) para uma formar uma supercola biologicamente compatível e eficiente. A capacidade adesiva dessas nanopartículas, chamadas de SiO2NP, se baseia no fato de que elas podem adsorver macromoléculas e formar conexões com o gel a partir delas. Sob constrição, elas são capazes de dissipar energia e se reorganizar, tornando o material ainda mais adequado para o processo de cicatrização. A Figura 1 mostra a cicatrização a partir dessas nanopartículas, no dia 0 e depois no dia 3, tanto visualmente quanto microscopicamente no tecido e sua comparação com outros os métodos de sutura e de adesivo. 


Figura 1: Comparação da cicatrização das feridas em ratos das nanopartículas e outros métodos.
Fonte: Meddahi-Pellé et al., 2014

O resultado mostra não só a melhora dos resultados estéticos, mas também a redução do impacto local e a aceleração da recuperação dos tecidos. Assim, a nanotecnologia se apresenta como uma alternativa promissora e biologicamente compatível aos métodos tradicionais de fechamento de feridas. As nanopartículas de óxido férrico e sílica mostraram não apenas uma capacidade adesiva superior, mas também a habilidade de promover uma cicatrização mais rápida e eficiente. A aplicação dessas tecnologias inovadoras pode transformar os procedimentos médicos, oferecendo soluções menos invasivas e mais eficazes, beneficiando amplamente a saúde e o bem-estar da sociedade.

Para mais informações, acesse o artigo:
MEDDAHI‐PELLÉ, Anne; LEGRAND, Aurélie; MARCELLAN, Alba; LOUEDEC, Liliane; LETOURNEUR, Didier; LEIBLER, Ludwik. Organ Repair, Hemostasis, and In Vivo Bonding of Medical Devices by Aqueous Solutions of Nanoparticles. Angewandte Chemie International Edition, [S.L.], v. 53, n. 25, p. 6369-6373, 16 abr. 2014. Wiley. http://dx.doi.org/10.1002/anie.201401043.

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