Resumo: Este artigo objetiva analisar a relação entre gênero e o consumo de viagens de turismo no Brasil na perspectiva da interseccionalidade com características sociodemográficas como raça, renda e situação do domicílio (urbano/rural). Este trabalho se insere em um ambiente de crescente debate acerca das pautas sociais no contexto turístico, articulado a carência de dados estatísticos e informações que permitam análises estratificadas por marcadores sociais. A pesquisa analisa dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (2017-2018) do IBGE, lançando mão de técnicas de estatística descritiva, além de testes paramétricos e modelagem multivariada. A modelagem do consumo turístico permitiu examinar os efeitos condicionais de cada variável sociodemográfica, buscando descrever as relações entre as variáveis explicativas e o consumo turístico. Os resultados descritivos apontam que as famílias chefiadas por mulheres tendem a ter um consumo turístico inferior do que aquelas chefiadas por homens. Contudo, a análise dos efeitos condicionais sugere que tal diferença se dá por meio da desigualdade de renda, e não diretamente à diferença de gênero. Desta forma, a análise interseccional permitiu esclarecer a estrutura por trás da desigualdade de gênero observável no consumo turístico, apontando a renda como mecanismo de transmissão e perpetuação do menor acesso de mulheres às viagens.