Resumo:
O presente artigo busca evidenciar as virtualidades do dom que subsistem no sistema comercial, especificamente no receptivo turístico, considerando o turismo como um produto da superposição destes dois sistemas de troca: o comercial e o dom; o primeiro — mais recente e socialmente visível — regido pelas leis escritas do comércio e da defesa do consumidor; o segundo — ancestral e mais difícil de ser alcançado pela observação empírica — pelas leis não-escritas do dom. Nossa observação deve, pois, dirigir-se para o que acontece além da troca combinada, além do valor monetizável de um serviço prestado, para o que as pessoas e os espaços proporcionam além do contrato estabelecido. Muitas comunidades locais vêem os turistas como “invasores” de seu espaço, gerando certa resistência no ato de recebê-los; entretanto, não existe hospitalidade sem sacrifício, mas é primordial compreender a carga turística, não como o volume de visitantes que um ambiente suporta, e, sim, como um espaço e a vida que nele habita, aceitando que planejamento turístico é, na verdade, o planejamento da hospitalidade que um território pode e quer proporcionar.