Resumo: Este ensaio discutirá alguns aspectos do surgimento das torcidas organizadas queers, que foram criadas no Facebook para combater as manifestações homofóbicas e machistas recorrentes nos estádios e práticas relacionadas ao futebol no Brasil. Discutimos o potencial destas torcidas para desconstruir o padrão normatizador vigente nos estádios e no universo do futebol, e o papel que elas possuem para reivindicar o reconhecimento da participação de homossexuais e mulheres, historicamente segregados de práticas que dão sentido ao esporte, como o jogar e o torcer. Para entender o padrão normatizador e a maneira como este regula as relações nos espaços e práticas que envolvem o futebol, iremos trabalhar com os conceitos estabelecidos e outsiders desenvolvidos por Norbert Elias, quando estudou as relações entre moradores mais antigos e grupos com menos tempo de residência na comunidade operária de Winston Parva, na Inglaterra. A dualidade estabelecidos-outsiders se dá por uma relação de poder na qual o grupo que detém um poder defende a sua posição e reafirma o seu carisma de grupo a partir de uma constante relação de oposição àqueles que representariam um risco à pureza do grupo. No ensaio procuramos problematizar as relações entre futebol e sexualidade, buscando entender, pela dualidade estabelecidos-outsiders, o padrão normatizador que legitima e reafirma um modelo de masculinidade viril, que hierarquiza e segrega subjetividades que não se conformam a esse ideal. Na contramão do padrão normatizador dos estabelecidos, surgem as torcidas queer e anti-homofobia, que se propõem a elaborar práticas discursivas confrontando a ideia de hegemonia masculina.